quarta-feira, agosto 26, 2009

Traduzir-se

"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?"

Ferreira Gullar

domingo, agosto 23, 2009








Genial!Lindo!

sábado, agosto 22, 2009

Há pouco tempo atrás mediei uma mesa-redonda sobre a educação inclusiva e a relação professor-aluno na universidade onde trabalho. Apresentei as debatedoras e iniciei a discussão com uma pequena nota introdutória que comentava de forma sucinta o filme "O Homem Elefante" de David Lynch.
Devido a essa nota, fui convidado para realmente fazer um comentário do mesmo filme no Fórum da Criança e do Adolescente da Regional Nordeste de BH. Era a primeira vez que me dispunha a tal atividade. E descobri que se apropriar de um pouco de arte para transmitir uma construção de nosso percurso é delicioso.
Tomado pela alegria do convite e da rica discussão gerada pelo próprio filme e pelo meu comentário, achei que seria bacana trazer para cá um pedaço da nota que me possibilitou essa experiência.
Eis:
"Para introduzir o assunto retomo aqui o filme “O Homem Elefante” de David Lynch. Nele, um rapaz, nos seus 20 e poucos anos, com uma deformação física muito grave (por isso a atribuição do apelido 'homem elefante') é veiculado enquanto uma atração do que conhecemos como Circo dos Horrores em plena Londres do século XIX. Um médico cirurgião o encontra em um dos espetáculos e, tomado com tal deformidade, resolve acolhê-lo no hospital que dirige na cidade inglesa. Lá, depois de um trabalho intenso cujo objetivo era aproximar-se da história daquele “ser”, o então Homem Elefante, passa a ganhar o status de sujeito. Todos passam a enxergá-lo enquanto um perfeito cavalheiro: bons modos, inteligente, educado e respeitoso. Seu sonho era conhecer o Teatro da cidade. Nunca sai às ruas, mas a sociedade passa a ir vê-lo no próprio hospital. Na cena final, em sua primeira ida ao Teatro, o agora John Merrick é aplaudido de pé quando homenageado pela atriz principal da peça que acaba de assistir.
Tomo esta história para pensarmos: tanto ocupando um lugar de quem causa espanto, asco, quanto do lugar de quem causa admiração e surpresa, a curiosidade, no caso do filme, parece atravessar constantemente a relação estabelecida entre o sujeito e o outro. Como uma pessoa tão deformada pode ser um perfeito cavalheiro? E Por quê não?
Essa curiosidade me leva a pensar que são duas formas de se tratar o diferente que nos causa surpresa: no rechaço ou no acolhimento. No acolhimento o sujeito aparece, no rechaço ele é apenas resto, puro objeto do olhar do outro. E é nesse ponto que penso uma analogia possível na relação professor-aluno: há o acolhimento, mas há também o rechaço. Ambos pela curiosidade. E se estivermos a fim de sabermos o que cada sujeito tem a nos oferecer ou a oferecer ao mundo, podemos saber de que forma ensiná-los. Para mim, um caminho possível".

terça-feira, agosto 18, 2009

Há poucos minutos atrás assisti a isto. Uma cena do filme "Não Por Acaso". Vi aqui. Um lugar que sempre visito, com prazer. E é dele que quero brevemente falar. Aliás, movido pela beleza da cena em questão.

Há alguns anos conheci a Dri e poucos contatos tive com ela. Poucos e ótimos, divertidos, como sempre ela é capaz de promover com qualquer um que lhe dirija a palavra.
Tempos depois de algumas sombras de encontros, fui ao seu casamento. Claro, sabia um pouco sobre Fernando e sobre o belo encontro nascido ali. O conheci lá. Melhor: o conheci onde moram. Numa casa inimaginavelmente linda onde o frio se faz presente em pleno verão mineiro. Nesse dia entendi o encontro. Um almoço com amigos. Fui recebido de braços arreganhados com uma lasanha digna de chef. Cerveja, vinho, muito papo, passeio no condomínio e um dia de sorrisos.

No dia do casamento fui embora radiante. Mesmo. Boa música, pessoas fantásticas, lugar paradisíaco e o diferencial: uma demonstração de amor como eu NUNCA antes havia presenciado. Saí tocado. Disse-lhes depois sobre essa sensação, inclusive.
E desde então, ainda com poucos encontros "reais" - mas encontros - passo a acompanhar via blogs, o carinho e o afeto de um pelo outro. Estes continuam irradiantes, presentes e marcantes.

Choro até agora como um menino que sente uma paixão pela primeira vez. É muito simples, Dri. Simples demais. E quando temos a certeza disso, tudo fica mais fácil e mais belo. Como na cena.

Quero dizer que por lapsos de timidez, talvez, não busque por essas companhias por mais vezes quanto gostaria. Mas uma coisa me sinto à vontade para dizer: que vocês, com o dom próprio de cada um, continuem a nos tocar com a simplicidade e o amor que fazem do nosso dia uma inspiração.

sábado, agosto 15, 2009

Junto à máxima de Tom Zé - "se os médicos persistirem, consulte o sintoma" - acrescenta-se a resposta de um taxista que, ao contar-me sobre sua tentativa de achar um remédio que o curasse da "gnorréia" - uma doença de zona segundo ele - admitiu ter dito ao seu médico:

- Vou te receitar esse remédio...
- Mas, doutor, ele não está adiantando nada!
- Quem é o médico aqui? Eu ou você?
- Você... Mas quem é o doente aqui? Eu ou você?

sexta-feira, agosto 14, 2009


quarta-feira, agosto 05, 2009

Adoro quadrinhos.
E Laerte é realmente genial.
Dica de um primo querido, cheguei até o blog dele.

domingo, agosto 02, 2009

Considerando metaforicamente o boneco da imagem do post abaixo como o próprio blog e a lua como o destino de minha incursão a praias do sul da Bahia nas duas últimas semanas (merecidamente após 1 ano e meio de trabalho constante e initerrupto), chego não sem saudade a este espaço que me borda para trazer aqui as imagens que me marcaram neste breve tempo de "suspensão". Digo "suspensão" porque é como se realmente você se deslocasse para tão longe que, como na lua, você conseguisse observar e contemplar com detalhes e tempo suficientes todos seus passos. Nesta viagem sem volta o que recolho pelo caminho é fundamental.

Foram 15 o número de dias que desfrutei de uma paz que a mim parecia inalcançável. E com ela aprendi a manejar minha relação com o tempo, estar atento à poesia que constantemente nos circunda e por uma distância curta a perdemos de vista e, principalmente, a contemplar. Disso, fica como produto as imagens. Do detalhe ao todo. Do próximo ao distante. Das cores. De tudo ao que elas me remetem. Tive a vontade de reuni-las aqui. Ajudado e inspirado nessas duas semanas pela presença de um amigo que possui uma imensa capacidade de recortar uma imagem tão bela e a capturá-la com a naturalidade que a ela é inerente (aliás, tenho a sorte de encontrar pelo caminho pessoas com essa qualidade que admiro) tive uma certeza: quero imergir no mundo da fotografia.

Fico, então, à vontade de me transmitir através delas aqui. Talvez essa seja a proposta.