domingo, dezembro 19, 2010

Da mudança, comprometo-me a falar menos que dizer.

Preocupar com as pontuações.
Sacar antes de safar.
Minimizar as exclamações, surpreender-me com as interrogações.
Sentir o aroma, o gosto.
Priorizar os travessões, predicar menos.
Dar mais espaço.
E, somente quando da contingência
e do ínfimo cálculo,
usar o ponto final.

E, aí, escrever.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Li-o três vezes. Seguidas.


Em todas, um suspiro, partindo de baixo percorrendo todo o corpo. Até sua força motriz abrir minha boca, num gesto infantil, e um grunhido de satisfação se permitir.

Acreditava em Maria. E em sua vontade aparecer.

Li mais uma vez.

Um sorriso em mim se deu, de soslaio.


“Maria anda como eu:
Impossibilitada de fazer
tudo o que quer.

Tem mãos amarradas,
ar de doente, olhar de demente,
cansada.

Maria vai acabar como eu:
covarde nas decisões,
amante das cousas indefinidas
e querendo compreender suicidas.

Maria vai acabar assim sem rumo,
andando por aí,
fazendo versos
e tendo acessos
nostálgicos.

Maria vai acabar bem tristemente.
De qualquer jeito,
lendo jornais,
tendo marido,
indefinido.

(Não sei por que Maria
quer compreender
muito, demais,
a vida de suicida.
E Maria vai acabar
se fartando da vida.)

A vida, coitada,
é camarada, gosta de Maria,
quer fazer Maria viver mais,
porque Maria é desgraçada.
Quer deixa-la para o fim,
assim à mostra,
e eu francamente não entendo
por que Maria não gosta
da vida."

Hilda Hilst
... de quando, aos vinte e pouco, entregou-se às palavras...