Li-o três vezes. Seguidas.
Em todas, um suspiro, partindo de baixo percorrendo todo o corpo. Até sua força motriz abrir minha boca, num gesto infantil, e um grunhido de satisfação se permitir.
Acreditava em Maria. E em sua vontade aparecer.
Li mais uma vez.
Um sorriso em mim se deu, de soslaio.
“Maria anda como eu:
Impossibilitada de fazer
tudo o que quer.
Tem mãos amarradas,
ar de doente, olhar de demente,
cansada.
Maria vai acabar como eu:
covarde nas decisões,
amante das cousas indefinidas
e querendo compreender suicidas.
Maria vai acabar assim sem rumo,
andando por aí,
fazendo versos
e tendo acessos
nostálgicos.
Maria vai acabar bem tristemente.
De qualquer jeito,
lendo jornais,
tendo marido,
indefinido.
(Não sei por que Maria
quer compreender
muito, demais,
a vida de suicida.
E Maria vai acabar
se fartando da vida.)
A vida, coitada,
é camarada, gosta de Maria,
quer fazer Maria viver mais,
porque Maria é desgraçada.
Quer deixa-la para o fim,
assim à mostra,
e eu francamente não entendo
por que Maria não gosta
da vida."
Hilda Hilst
... de quando, aos vinte e pouco, entregou-se às palavras...
Um comentário:
Vale a pena lê-lo várias e várias...
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