domingo, setembro 09, 2012


Sempre tenho a sensação de que quando olho pra todos os trabalhos desse coletivo, é como se estivéssemos achando alguma coisa secretamente escondida, bem no meio da cidade. Como se as imagens fossem destacadas. Como se a arte estivesse pronta, ali, esperando alguém para dar-lhe vida. Isso é diálogo, isso é olhar ético, isso é convivência. Às vezes apenas um traço, um risco. Pra mudar o enquadre. Pra lhe dar cor, lhe dar sentido.
Pura poesia urbana.
Como no pixo.
Uma assinatura, uma ocupação, um presente de autor aos cidadãos. Um protesto, uma mensagem, uma crítica. A cidade apenas ganha com isso, pois é onde as opiniões têm vez, têm lugar. Onde o olhar de cada um pode ser visto e compartilhado.

Obrigado.




domingo, agosto 12, 2012

Algum Lugar


Catarina se alvoroçou ao ver Plínio levantando de seu lado da cama. 

Havia três meses que aquele lugar era ocupado por um outro corpo com outro nome.

Plínio a viu abrir os olhos e sorriu. Por um instante, Catarina sentiu-se a mulher mais feliz do mundo. Foi só. Levantou-se apenas quando Plínio se despediu de longe com um aceno de mão e com o mesmo sorriso com que lhe acordara. Caminhou até a janela e sentou-se. Após alguns minutos foi sua vez de sorrir. E imaginou-se novamente só. Sentiu arderem suas espinhas. Começou a se vestir.

Atravessou um corredor fino e alongado, deu-se na porta. Ao abri-la, fechou os olhos. Novo arrepio. Sentiu o frio metal da maçaneta da porta e reconheceu seu corpo. Como se estivesse deixando um pequeno templo, um lugar que lhe fosse exclusivamente sacro, saiu do apartamento sem virar o rosto. 

Desceu sozinha onze andares de elevador. Apenas com os apitos discretos e luminosos dos números acompanhando o compasso de seus receios. Sentiu um sopro de vento ao parar da máquina. Do lado de fora, no saguão branco, liso e frio, caminhou até enxergar a luz da saída. A liberdade percorria-lhe as veias e artérias enquanto o primeiro raio de sol esquentava-lhe a face. Com o pé para fora, o silêncio. Novamente só.

Após segundos de um rompido de vida cegar-lha a vista, começou a caminhar. Sentiu-se, então, que encontrava-se a caminho daquela que, dentro de instantes, viria a ser sua casa, seu lar e que, há três meses, havia deixado de ser por um motivo que nem mesmo ela sabia dizer.

domingo, julho 29, 2012