Humberto Mundim, "O Gavião e a Gaiola"
domingo, abril 25, 2010
domingo, abril 11, 2010
Caligrafia
Luciana Elaiuy
Escreva em letra miúda a sua sensação de grandeza.
Num muro, bilhete, na testa, no verbo da tristeza.
Mas escreva em letras miúdas para caber
entre os dentes da raiva, entre os tempos da pausa,
entre o peso e a alça, o desejo e a calça.
Nomeie seus instantes.
Para ler com clareza,
não é a letra que
precisa ser grande.
Luciana Elaiuy
Escreva em letra miúda a sua sensação de grandeza.
Num muro, bilhete, na testa, no verbo da tristeza.
Mas escreva em letras miúdas para caber
entre os dentes da raiva, entre os tempos da pausa,
entre o peso e a alça, o desejo e a calça.
Nomeie seus instantes.
Para ler com clareza,
não é a letra que
precisa ser grande.
terça-feira, abril 06, 2010
Sempre fui dos que defendia a Praia do Morro, de Guarapari, de todos insultos dirigidos a ela. Frequento a praia há mais de 5 anos. Claro, é preciso dizer: escolho a época mais vazia e pego emprestado um belo apartamento no sexto andar de um prédio da orla, localizado ao final da praia, perto do morro, com uma vista invejosa. Desde então, descubro praias próximas desertas, vejo o mar colorido de azul e verde todas as manhãs, admiro a praia toda coberta por castanheiras e, não bastasse, fico sabendo que lá é considerado dos melhores lugares para mergulho submarino do Brasil, tanto pela biodiversidade marítima quanto pelos navios afundados em certos locais no mar para atrair tal tipo turismo.
Pois bem. Volto desse feriado triste e preocupado com certo descaso, pequeno talvez, mas não menos importante, dos que passam por lá em alta temporada.
Primeiro preciso ser sincero: não há muito o que fazer na cidade; não existem bons restaurantes; o único bar interessante na beira da praia é um self service que só funciona de 11:00hs às 15:00hs, deixando espaço apenas para pastelarias fedorentas e supermercados. Apesar de uma praia democrática em que frequentam "chefe e subordinado" (como escutei lá esses dias) e cerveja gelada (sempre!), não gosto das músicas tocadas, os atendimentos de alguns quiosques são grosseiros e, quando calor, é puro mormaço. Mas, acredite, reparei nisso apenas dessa vez que estive lá. E por bons motivos.
Louco para viajar e descansar, quebrar a rotina, tomo o rumo de Guarapari. Chego e me deparo com um formigueiro de pessoas que começam a pegar o resquício de sol que nos resta dos tempos nublados, mas sem chuva, às 7 da manhã. Carros-alto falantes tocando música ruim para quem quisesse e para quem não quisesse ouvir. Por aí tudo bem. O ponto alto de minha surpresa foi outro. Levanto cedo, caminho na praia desde o primeiro dia e começo a observar um comportamento que me enoja: lixos e mais lixos jogados, como se fosse uma calçada qualquer, boiando no mar ou fazendo-me desviar o caminho em plena areia da praia. A ponto de um cidadão abrir um picolé e simplesmente jogar a embalagem ao mar como se fosse uma grande cesta de lixo que, penso eu, aparenta-lhe que ele é o responsável para recolher os restos que tal cidadão produz. Uma amiga minha, em uma de nossas caminhadas, também indignada, chega a recolher três latas de cerveja, em frente a um rapaz que as consumia e jogá-las no tambor de lixo mais próximo. No penúltimo dia não entrei mais no mar. Não exagero. Era muito lixo. Mesmo vendo que no final de sábado, teoricamente último dia de praia cheia, apareceram quatro caminhões e um trator que recolheram à noite, os restos que o mar não abocanhou, senti-me traído.
Ok. Não pretendo fazer demagogia aqui. Algumas vezes me pego não dando exemplo algum de bom comportamento ambiental. O que interrogo é o hábito. Parecia que todos ali estavam alheios a qualquer discussão sobre a conservação de um bem natural, de um lugar que te acolhe em sua beleza e que lhe tem tanto a oferecer.
As pessoas não se envergonham? Não é um esforço tão grande assim. Uma simples sacola pode ser o suficiente para não depredar. Assumo que os moradores também não ajudam. O tempo inteiro mostraram-se complacentes com tal situação. Mas eu queria fazer algo. No entanto, percebi que era impotente, pequeno. A desconstrução de um hábito é algo complexo. Tem que ser feito com muita delicadeza e planejamento. O gesto de minha amiga, talvez por ter tido o efeito de um olhar curioso, era o que me restava pensar como uma saída digna.
Fui embora. Indignado, precisei escrever aqui. Traído, não falarei mais de Guarapari. Não como falava, beirando certa militância. Durante cinco anos desfrutei desse lugar com olhares apaixonados. Vivi momentos deliciosos. Faz parte de minha história. Talvez por isso, esteja tão triste.
Incrível é saber que, por obra do destino, pode ser minha última vez à Praia do Morro. O apartamento que me era emprestado vai ser alugado. Não queria que fosse assim. O que tentarei é preservar minha memória que é algo a meu alcance. Aliás, esta sim é uma ação pequena, é tarefa só minha. Porém, fica minha esperança de que um dia poderei voltar lá e desdizer tudo o que escrevi agora.
Pois bem. Volto desse feriado triste e preocupado com certo descaso, pequeno talvez, mas não menos importante, dos que passam por lá em alta temporada.
Primeiro preciso ser sincero: não há muito o que fazer na cidade; não existem bons restaurantes; o único bar interessante na beira da praia é um self service que só funciona de 11:00hs às 15:00hs, deixando espaço apenas para pastelarias fedorentas e supermercados. Apesar de uma praia democrática em que frequentam "chefe e subordinado" (como escutei lá esses dias) e cerveja gelada (sempre!), não gosto das músicas tocadas, os atendimentos de alguns quiosques são grosseiros e, quando calor, é puro mormaço. Mas, acredite, reparei nisso apenas dessa vez que estive lá. E por bons motivos.
Louco para viajar e descansar, quebrar a rotina, tomo o rumo de Guarapari. Chego e me deparo com um formigueiro de pessoas que começam a pegar o resquício de sol que nos resta dos tempos nublados, mas sem chuva, às 7 da manhã. Carros-alto falantes tocando música ruim para quem quisesse e para quem não quisesse ouvir. Por aí tudo bem. O ponto alto de minha surpresa foi outro. Levanto cedo, caminho na praia desde o primeiro dia e começo a observar um comportamento que me enoja: lixos e mais lixos jogados, como se fosse uma calçada qualquer, boiando no mar ou fazendo-me desviar o caminho em plena areia da praia. A ponto de um cidadão abrir um picolé e simplesmente jogar a embalagem ao mar como se fosse uma grande cesta de lixo que, penso eu, aparenta-lhe que ele é o responsável para recolher os restos que tal cidadão produz. Uma amiga minha, em uma de nossas caminhadas, também indignada, chega a recolher três latas de cerveja, em frente a um rapaz que as consumia e jogá-las no tambor de lixo mais próximo. No penúltimo dia não entrei mais no mar. Não exagero. Era muito lixo. Mesmo vendo que no final de sábado, teoricamente último dia de praia cheia, apareceram quatro caminhões e um trator que recolheram à noite, os restos que o mar não abocanhou, senti-me traído.
Ok. Não pretendo fazer demagogia aqui. Algumas vezes me pego não dando exemplo algum de bom comportamento ambiental. O que interrogo é o hábito. Parecia que todos ali estavam alheios a qualquer discussão sobre a conservação de um bem natural, de um lugar que te acolhe em sua beleza e que lhe tem tanto a oferecer.
As pessoas não se envergonham? Não é um esforço tão grande assim. Uma simples sacola pode ser o suficiente para não depredar. Assumo que os moradores também não ajudam. O tempo inteiro mostraram-se complacentes com tal situação. Mas eu queria fazer algo. No entanto, percebi que era impotente, pequeno. A desconstrução de um hábito é algo complexo. Tem que ser feito com muita delicadeza e planejamento. O gesto de minha amiga, talvez por ter tido o efeito de um olhar curioso, era o que me restava pensar como uma saída digna.
Fui embora. Indignado, precisei escrever aqui. Traído, não falarei mais de Guarapari. Não como falava, beirando certa militância. Durante cinco anos desfrutei desse lugar com olhares apaixonados. Vivi momentos deliciosos. Faz parte de minha história. Talvez por isso, esteja tão triste.
Incrível é saber que, por obra do destino, pode ser minha última vez à Praia do Morro. O apartamento que me era emprestado vai ser alugado. Não queria que fosse assim. O que tentarei é preservar minha memória que é algo a meu alcance. Aliás, esta sim é uma ação pequena, é tarefa só minha. Porém, fica minha esperança de que um dia poderei voltar lá e desdizer tudo o que escrevi agora.
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