A arte é mambembe. Ela provoca, ilumina, assusta, convoca, tenta explicar.
Quando se trata, em minha opinião, de arte de rua, então... É ali, onde qualquer coisa pode acontecer. Acreditava que nesta Bienal de São Paulo, a ousadia pudesse ter seu lugar, mas a arte, que não pode ser enquadrada, está ficando "quadrada".
Banksy nos ensina que o enquadre é do olhar. Mas acho que ele diz também do acontecimento.
O acontecimento enquadra.
Mas um enquadre mambembe. Flexível. Flácido. Cuja borda toma variadas formas. Talvez até mais de uma a cada vez. Sem se deixar escravizar pelo tempo.
A pichação também nos ensina um pouco isso. Aquele que escreve "por impulso" como dizem.
Ou por se ver ser visto pela cidade.
Talvez na rua, a arte toma outro rumo. Na rua, a informalidade é mais bem vinda, não? E aí o próprio acontecimento faz uma visita. Inesperada, na maioria das vezes.
Li que Baudelaire pensava que a arte ocupava um lugar entre o transitório, contingente e o eterno.
Ela definida ali não nos diz se a cada vez, a cada olhar ou a cada um, o traço muda.
Do autor, está inscrito. Do expectador, o traço vira experiência. Prova-se do traço.
Mas na pichação não se satisfaz.
Coloca-se o corpo em cena e deixa-se também se inscrever.
É arte? Não sei.
Mas tá ali.
E Banksy, um artista em sua essência, nos convoca a pensar que sendo arte ou não, ela causa. Fura a borda. Pois está sempre a querer refazê-la.