Algum Lugar
Catarina se alvoroçou ao ver Plínio levantando de seu lado da cama.
Catarina se alvoroçou ao ver Plínio levantando de seu lado da cama.
Havia três meses que aquele lugar era ocupado por um outro corpo com outro nome.
Plínio a viu abrir os olhos e sorriu. Por um instante, Catarina sentiu-se a mulher mais feliz do mundo. Foi só. Levantou-se apenas quando Plínio se despediu de longe com um aceno de mão e com o mesmo sorriso com que lhe acordara. Caminhou até a janela e sentou-se. Após alguns minutos foi sua vez de sorrir. E imaginou-se novamente só. Sentiu arderem suas espinhas. Começou a se vestir.
Atravessou um corredor fino e alongado, deu-se na porta. Ao abri-la, fechou os olhos. Novo arrepio. Sentiu o frio metal da maçaneta da porta e reconheceu seu corpo. Como se estivesse deixando um pequeno templo, um lugar que lhe fosse exclusivamente sacro, saiu do apartamento sem virar o rosto.
Desceu sozinha onze andares de elevador. Apenas com os apitos discretos e luminosos dos números acompanhando o compasso de seus receios. Sentiu um sopro de vento ao parar da máquina. Do lado de fora, no saguão branco, liso e frio, caminhou até enxergar a luz da saída. A liberdade percorria-lhe as veias e artérias enquanto o primeiro raio de sol esquentava-lhe a face. Com o pé para fora, o silêncio. Novamente só.
Após segundos de um rompido de vida cegar-lha a vista, começou a caminhar. Sentiu-se, então, que encontrava-se a caminho daquela que, dentro de instantes, viria a ser sua casa, seu lar e que, há três meses, havia deixado de ser por um motivo que nem mesmo ela sabia dizer.