Há pouco tempo atrás mediei uma mesa-redonda sobre a educação inclusiva e a relação professor-aluno na universidade onde trabalho. Apresentei as debatedoras e iniciei a discussão com uma pequena nota introdutória que comentava de forma sucinta o filme "O Homem Elefante" de David Lynch.
Devido a essa nota, fui convidado para realmente fazer um comentário do mesmo filme no Fórum da Criança e do Adolescente da Regional Nordeste de BH. Era a primeira vez que me dispunha a tal atividade. E descobri que se apropriar de um pouco de arte para transmitir uma construção de nosso percurso é delicioso.
Tomado pela alegria do convite e da rica discussão gerada pelo próprio filme e pelo meu comentário, achei que seria bacana trazer para cá um pedaço da nota que me possibilitou essa experiência.
Eis:
"Para introduzir o assunto retomo aqui o filme “O Homem Elefante” de David Lynch. Nele, um rapaz, nos seus 20 e poucos anos, com uma deformação física muito grave (por isso a atribuição do apelido 'homem elefante') é veiculado enquanto uma atração do que conhecemos como Circo dos Horrores em plena Londres do século XIX. Um médico cirurgião o encontra em um dos espetáculos e, tomado com tal deformidade, resolve acolhê-lo no hospital que dirige na cidade inglesa. Lá, depois de um trabalho intenso cujo objetivo era aproximar-se da história daquele “ser”, o então Homem Elefante, passa a ganhar o status de sujeito. Todos passam a enxergá-lo enquanto um perfeito cavalheiro: bons modos, inteligente, educado e respeitoso. Seu sonho era conhecer o Teatro da cidade. Nunca sai às ruas, mas a sociedade passa a ir vê-lo no próprio hospital. Na cena final, em sua primeira ida ao Teatro, o agora John Merrick é aplaudido de pé quando homenageado pela atriz principal da peça que acaba de assistir.
Tomo esta história para pensarmos: tanto ocupando um lugar de quem causa espanto, asco, quanto do lugar de quem causa admiração e surpresa, a curiosidade, no caso do filme, parece atravessar constantemente a relação estabelecida entre o sujeito e o outro. Como uma pessoa tão deformada pode ser um perfeito cavalheiro? E Por quê não?
Essa curiosidade me leva a pensar que são duas formas de se tratar o diferente que nos causa surpresa: no rechaço ou no acolhimento. No acolhimento o sujeito aparece, no rechaço ele é apenas resto, puro objeto do olhar do outro. E é nesse ponto que penso uma analogia possível na relação professor-aluno: há o acolhimento, mas há também o rechaço. Ambos pela curiosidade. E se estivermos a fim de sabermos o que cada sujeito tem a nos oferecer ou a oferecer ao mundo, podemos saber de que forma ensiná-los. Para mim, um caminho possível".